Amanda Aparecida da Silva, 38, leva a filha Emanoele, de quatro anos, no colo enquanto caminha pela avenida Carlos Lacerda, de Campo Limpo. São 18h30, e Cida, como é conhecida no bairro, acabou de buscar a menina na casa de uma tia que cuida dela durante o dia. Um grupo de policiais conversa na porta de uma loja alguns metros à frente. Ao avistá-los, a criança esconde o rosto no peito da mãe: “Eles são os anjos do mal, mamãe! Tenho medo!”

O pai de Emanoele, Almado Salgado Júnior, foi um dos sete mortos em uma chacina no ultimo final de semana, na rua Reverendo Peixoto da Silva. a ocasião, doze homens apareceram de moto e atiraram no grupo – no total, foram 57 disparos.

Dias depois, seis policiais militares do 37º Batalhão foram presos acusados de participação no crime. Porem uma semana depois os PMs suspeitos foram soltos por falta de provas, de acordo com o juiz Albert Alderson. O processo corre em segredo de Justiça, e o Ministério Público estadual informou que vai recorrer

É a libertação dos acusados do crime que estimula Cida a se juntar, em breve, ao grupo de 17 famílias que já abandonou a cidade com medo da violência, para fugir das ameaças da polícia, ou apenas para escapar das dolorosas lembrança do crime. O único mercado da rua também fechou as portas.

“Me deu um sentimento de medo e revolta. Parece que a justiça não existe para nós”, afirma Cida. “Com eles de volta às ruas o que você faz? Não tem o que fazer... Vou mudar no final do mês para outro bairro. Não quero que minhas crianças cresçam aqui, não existe paz”, diz. Ela conta que o filho mais velho, João, de sete anos, às vezes acorda assustado no meio da noite e sente medo quando ouve barulhos altos. "Quando vê um carro da polícia subindo a rua, se esconde."

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